Antes de adentrar o dia a dia, vale ressaltar que o “limbo” do atleta excluído do profissional e sem retorno à base transforma a carreira em um exercício de resistência: nesse espaço, o jogador convive com treinos isolados, desafios físicos e um desgaste psicológico que, juntos, moldam uma rotina instável, repleta de incertezas e busca ativa por novas oportunidades.
Rotina no Limbo
No CT, o atleta comparece em horários alternativos ao elenco principal, cumprindo exercícios individuais de condicionamento e técnica enquanto observa o grupo profissional à distância. Em casos extremos, ele treina em “Grupo B” como no Santos, onde mais de uma dezena de contratados ficaram fora dos planos, mantendo contratos vigentes sem perspectiva de jogo. Essa exclusão, embora prática comum, fere o “dever de ocupação efetiva” da Lei Pelé, que garante ao atleta condições para treinar com seus pares.
Desafios Físicos
Isolar o jogador demanda planos de treino individualizados que misturam força e trabalho técnico, contudo, a ausência de simulação de jogo coletivo impede a aplicação de conceitos táticos e o condicionamento em alta velocidade. Mesmo estudos como o da Brain Endurance Training mostram que treinos específicos podem aprimorar aspectos cognitivos e físicos, pacientes isolados perdem a vivência das dinâmicas de equipe que só o treinamento conjunto oferece.
Batalha Psicológica
Isolado do convívio diário, o atleta experimenta a sensação de exclusão que estudantes e profissionais relataram durante a pandemia, com aumento de ansiedade e queda no bem‑estar. Além disso, a pressão por resultados e o perfeccionismo inerente ao esporte elevam níveis de estresse, exigindo intervenção psicológica que poucos clubes sistematizam. Por outro lado, técnicas de psicologia do esporte, como a imagética motora, oferecem ferramentas para manter a motivação e reforçar a autoconfiança mesmo longe dos gramados.
Rumo a Novas Chances
Enquanto aguarda propostas, o jogador recorre a agentes e avalia empréstimos ou transferências para clubes menores, estratégia usada para recuperar ritmo e visibilidade. Exemplos internacionais reforçam que treinar à parte não inviabiliza o retorno: Cristiano Ronaldo manteve forma sozinho no Real Madrid antes de buscar novo clube, e Raheem Sterling treinou separado no Chelsea até alinhar sua saída com o projeto de Enzo Maresca. Assim, mesmo relegado a um limbo profissional, o atleta descobre caminhos de resiliência, moldando uma jornada de superação que vai muito além dos muros do CT.