Após anos de instabilidade dentro e fora de campo, o Corinthians aposta em Dorival Júnior como o arquiteto de uma nova era e o roteiro de reconstrução já tem precedentes que funcionaram com perfeição em Flamengo e São Paulo.
Fortaleza sob construção: como Dorival pode blindar o Timão
No Flamengo, Dorival montou uma linha defensiva de quatro jogadores, com laterais ofensivos apoiados por zagueiros experientes. Já no São Paulo, explorou esquemas que alternavam entre três e quatro defensores. O atual elenco corintiano conta com Félix Torres e Gustavo Henrique como principais zagueiros, mas carece de um defensor canhoto que permitiria maior flexibilidade tática.
A solução passa por buscar um zagueiro canhoto de baixo custo ou por empréstimo, além de investir em jovens da base como Tchoca para aumentar as opções defensivas. A estratégia seguiria o modelo implementado no São Paulo, onde Dorival mesclou veteranos experientes com jogadores em ascensão.
O cérebro do time: como Dorival pode dar inteligência e ritmo ao meio
O padrão de Dorival nos clubes anteriores envolveu a combinação de volantes de marcação com meias criativos. No Corinthians, Rodrigo Garro representa o elemento técnico do setor, enquanto Raniele oferece consistência defensiva. Entretanto, falta um jogador que execute transições rápidas com passes verticais.
A prioridade deve ser a permanência de Breno Bidon, jovem talento da base, e a contratação de um meia criativo no estilo de Lucas Moura, que foi fundamental no São Paulo de Dorival. A implementação de um 4-2-3-1 ou 4-3-3, com Garro como principal articulador e Carrillo pela direita, seria uma adaptação natural dos modelos táticos utilizados pelo treinador.
Fôlego e finalização: o ataque que Dorival quer construir no Timão
No ataque, Dorival explorou a velocidade pelas pontas no São Paulo e um sistema de dois atacantes no Flamengo. No Corinthians, Yuri Alberto é o artilheiro consolidado, mas o time precisa reforçar as opções de ponta após a saída de Wesley. Memphis Depay e Talles Magno são alternativas que precisam de complementos.
A prioridade é contratar um ponta direita veloz e dar oportunidades a Giovane como opção de impacto. Também seria viável adaptar o esquema para acomodar dois atacantes, permitindo parcerias entre Yuri Alberto e Memphis, similar ao que foi feito com Gabigol e Pedro no Flamengo.
Gestão de lideranças
Dorival sempre valorizou jogadores experientes como referências em campo. A saída de Fagner e Cássio deixou um vácuo de liderança no Corinthians que André Ramalho e Hugo Souza podem começar a preencher. É crucial manter Yuri Alberto, alvo de clubes europeus, e renovar contratos de peças-chave como Romero e Carrillo.
Base e sustentabilidade financeira
Com uma dívida significativa de R$ 668 milhões, o Corinthians precisa equilibrar suas finanças. Dorival tem histórico de integrar jovens talentos, como fez no São Paulo. No Timão, jogadores como Léo Mana e Ryan representam oportunidades para reduzir custos e renovar o elenco.
A estratégia passa por negociar atletas sem espaço no grupo (como Pedro Raul) e promover regularmente jogadores da base, estabelecendo uma meta de pelo menos duas promoções por temporada.
Conclusão
Dorival Júnior tem o desafio de adaptar ao Corinthians a fórmula que deu certo em seus últimos trabalhos: defesa organizada, meio-campo versátil, ataque eficaz e gestão inteligente de recursos. Mesmo com limitações financeiras, o técnico pode reestruturar o time aproveitando o elenco existente, que já conta com jogadores de qualidade como Garro e Yuri Alberto, realizando contratações pontuais e estratégicas.
O sucesso desse projeto dependerá da capacidade de Dorival em impor sua identidade de jogo enquanto navega pelas complexidades da política interna do clube, ainda abalada por discussões sobre o impeachment do presidente Augusto Melo. Se conseguir estabelecer estabilidade dentro e fora de campo, o Corinthians terá condições de retornar ao protagonismo no cenário nacional.
No Corinthians, não basta vencer: é preciso convencer pela entrega. Dorival conhece esse peso — e sua liderança serena pode traduzir a garra corintiana em organização dentro de campo.
Com a bola nos pés e o clube nas costas, Dorival tem a chance de ser mais que um técnico: pode se tornar o nome que reconduziu o Corinthians à sua essência — de clube gigante, competitivo e respeitado.