Da Favela ao Estrelato: a trajetória de Carlos Tévez

Infância e categorias de base

Carlos Tévez nasceu em 1984 no bairro Ejército de los Andes, conhecido como Fuerte Apache por seu alto índice de violência. Ficou órfão de pai biológico logo ao nascer e foi criado pelos tios maternos (Segundo Raimundo Tévez e Adriana). Aos 7 meses, sofreu graves queimaduras por água quente, cicatrizes que carrega até hoje e se recusou a remover por entender que fazem parte de sua identidade. Desde cedo jogava bola na periferia; com 5 anos foi descoberto no All Boys e em 1997, aos 13, foi contratado para as categorias de base do Boca Juniors. Nessa época já se notava sua garra e habilidade técnica, características que o definiriam no futuro.

Primeira passagem pelo Boca Juniors (2001–2004)

Em 2001, Tévez estreou no profissional do Boca Juniors aos 17 anos e logo em 2003 teve papel decisivo nas conquistas do clube. Foi titular na campanha vitoriosa da Copa Libertadores de 2003 (marcando na final contra o Santos) e no Mundial Interclubes do mesmo ano. Em seguida, conquistou o torneio Apertura 2004 do Campeonato Argentino e a Copa Sul-Americana 2004. Seu futebol aguerrido e habilidade de finalização logo o tornaram ídolo xeneize. Em breve se firmou como um dos principais atacantes do futebol argentino, ganhando também prêmios individuais, como o de melhor jogador da América do Sul em 2003, 2004 e 2005.

Corinthians (2005–2006) e ida à Europa

Contratado em 2005 pelo Corinthians (via investimento do grupo MSI), Tévez formou um trio argentino de ataque ao lado de Mascherano e Sebastián Domínguez. Rapidamente se tornou ídolo: foi campeão brasileiro em 2005 com grande atuação e eleito o melhor jogador do campeonato. Em seguida migrou para a Europa, emprestado ao West Ham United em 2006. Na Inglaterra, sob esquema de negócio polêmico (terceira parte), Tévez manteve sua garra: foi “decisivo e agressivo como sempre”, marcou gols importantes e ajudou o West Ham a evitar o rebaixamento na Premier League.

Manchester United (2007–2009)

Em 2007, Tévez assinou com o Manchester United. Formou com Cristiano Ronaldo e Wayne Rooney um trio ofensivo formidável, totalizando 79 gols na Premier League 2007/08. Em sua primeira temporada foi campeão inglês (2007/08), repetiu o título em 2008/09 e sagrou-se campeão da UEFA Champions League 2008 e do Mundial de Clubes FIFA 2008 com o United. Ele também conquistou a Copa da Liga Inglesa (2009) e a Supercopa da Inglaterra (2008) naquele período. Essas conquistas na Inglaterra se tornaram um marco no currículo do “Apache”, que cresceu em confiança e experiência internacional.

Manchester City (2009–2013)

Em 2009, Tévez surpreendeu ao trocar o United pelo rival Manchester City. Com a camisa celeste, ele manteve a pegada vencedora. Na temporada 2009/10 marcou 29 gols em 43 jogos, tornando-se o 4º maior artilheiro da Premier League naquele ano. No biênio seguinte foi artilheiro da liga 2010/11 (ao lado de Berbatov) e conquistou a Copa da Inglaterra 2011. Na histórica campanha do título da Premier League 2011/12, Tévez foi peça-chave no time (conquistando o título na última rodada). Contudo, em seus últimos meses em Manchester o rendimento caiu e ele se envolveu em atritos extra-campo – ficou marcado por provocar seu ex-time sempre que podia. Ainda assim, em quatro anos no City conquistou três títulos: a Premier League, a FA Cup e a Supercopa Inglesa.

Juventus (2013–2015)

Livre do City, Tévez assinou com a Juventus em 2013. Na Itália reencontrou ótimo futebol e diversidade tática. Em Turim acumulou troféus: dois Campeonatos Italianos (2013/14 e 2014/15), uma Copa da Itália (2014/15) e uma Supercopa Italiana (2013). Foi fundamental no ataque juventino e, em 2015, disputou a final da Champions League ao lado de Pirlo, Pogba e Morata, parando apenas diante do Barcelona de Messi e Suárez. Já consagrado, Tévez deixou claro que queria retornar ao clube do coração: cumprida a segunda temporada, despediu-se da Juventus rumo ao Boca Juniors.

Segunda passagem pelo Boca Juniors (2015–2016)

No meio de 2015, o atacante voltou ao Boca Juniors e gerou comoção na torcida. Retomou a camisa 10 xeneize e conquistou logo o Campeonato Argentino daquele ano. Nesse período também alcançou a final da Copa Libertadores 2015, perdendo para o River Plate. Em janeiro de 2016, porém, aceitou proposta milionária da China. Despediu-se do Boca após cerca de ano e meio, dizendo não ter mais nada a dar como jogador e classificando aquele momento como o “dia mais triste” de sua vida.

Shanghai Shenhua (2016–2017)

Tévez se transferiu ao Shanghai Shenhua com o maior salário do futebol mundial, cerca de €40 milhões por ano. No entanto, a experiência na China foi conturbada: foi campeão da Copa da China 2017, mas sofreu críticas por excesso de peso e fez declarações contundentes contra o futebol local. Após apenas uma temporada na Ásia, decidiu voltar novamente para o Boca Juniors (2018), preferindo encerrar a carreira no clube de sua infância.

Retorno definitivo ao Boca e aposentadoria (2018–2022)

De 2018 em diante, Tévez atuou exclusivamente pelo Boca Juniors. No primeiro ano foi vice-campeão da Libertadores (derrotado pelo rival River Plate) e campeão argentino (2017/18). Ainda venceu a Supercopa Argentina de 2018 e foi campeão da Copa da Liga (Troféu Diego Maradona) em 2020. Em novembro de 2021 deixou o clube e anunciou que, com 37 anos, encerraria a carreira. Em entrevista de despedida afirmou: “Não tenho mais nada para dar, como jogador já dei tudo”. Em junho de 2022 confirmou oficialmente a aposentadoria, revelando que a morte de seu pai em 2021 pesou na decisão – “parei porque perdi meu fã número 1 (meu pai)”.

Seleção Argentina e conquistas internacionais

Tévez brilhou também pela seleção argentina. Foi campeão olímpico em Atenas 2004 (ouro nos Jogos Olímpicos) e participou da Copa do Mundo de 2010. Pela seleção principal foi vice-campeão da Copa América em 2004, 2007 e 2015. Nunca venceu um Mundial ou Copa América com a equipe, mas foi figura constante em eliminações dramáticas. Em 2016 deixou de ser convocado (não esteve na Copa América Centenário) e não voltou a atuar pelo país, encerrando uma passagem de 76 jogos e 13 gols (dados da seleção).

Estilo de jogo e legado

Tevez destacou-se como atacante versátil e incansável. Apesar de 1,71 m, compensou com força física, dribles curtos e muita coragem – era descrito como “decisivo e agressivo” em campo. Seu estilo combativo, com corrida de fundo e habilidade de finalização, o tornou querido pela torcida “popular”: virou marca registrada as comemorações dançando cumbia após gols. Ídolo declarado de Diego Maradona desde a infância, Tévez sempre carregou no sangue a raça portenha . Ao longo da carreira tornou-se o segundo argentino com mais títulos oficiais (27, atrás de Messi), coroando com taças em todos os continentes onde atuou.

Títulos e prêmios (seleção)

  • Medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de 2004 (Argentina).
  • Vice-campeão da Copa América (2004, 2007, 2015).

Conquistas por clubes

  • Boca Juniors: 5 vezes campeão argentino (2003, 2015, 2017, 2018, 2020), Copa Libertadores (2003), Copa Sul-Americana (2004), Mundial de Clubes (2003), Copa Argentina (2015), Supercopa Argentina (2018) e Copa da Liga Argentina (2020).
  • Corinthians: Campeão Brasileiro (2005).
  • Manchester United: 2 Premier Leagues (2007/08, 2008/09), Copa da Liga Inglesa (2009), Supercopa da Inglaterra (2008), Champions League (2008) e Mundial de Clubes (2008).
  • Manchester City: Premier League (2011/12), FA Cup (2011), Supercopa da Inglaterra (2012).
  • Juventus: 2 Serie A (2013/14, 2014/15), Copa da Itália (2015), Supercopa Italiana (2013).
  • Shanghai Shenhua: Copa da China (2017).

Legado de superação

Carlos Tévez construiu uma carreira repleta de superações. Saiu de um contexto de violência e pobreza, venceu feridas físicas e emocionais e tornou-se campeão em quatro países. Em todo time por que passou foi símbolo de “garra”, conquistando a admiração de torcedores modestos e dos grandes clubes. Sua história inspirou séries e documentários (como “Apache” da Netflix) e permanece marcada pelo espírito combativo e a identidade forjada no “Fuerte Apache”.

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