Augusto Melo Rumo ao Indiciamento no Escândalo VaideBet

O cerco está se fechando em torno do presidente do Corinthians, Augusto Melo. A Polícia Civil de São Paulo prepara a reta final da investigação sobre o polêmico “Caso VaideBet” e deve concluir o inquérito até a primeira semana de maio. As evidências reunidas ao longo de um ano de apuração apontam para um possível esquema de desvio de recursos do patrocínio milionário firmado com a casa de apostas.

Trio na mira das autoridades

Segundo informações obtidas pela Gazeta Esportiva, o delegado Tiago Fernando Correia, do Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC), já reuniu elementos suficientes para indiciar três nomes de peso:

  • Augusto Melo – atual presidente do Corinthians
  • Sérgio Moura – ex-superintendente de marketing
  • Marcelo Mariano – ex-diretor administrativo que pediu demissão recentemente

Os três devem responder por associação criminosa (antigo crime de formação de quadrilha) e lavagem de dinheiro com receitas supostamente desviadas do próprio Corinthians. O ex-diretor jurídico Yun Ki Lee também pode ser indiciado como partícipe, por não ter enviado o contrato de patrocínio ao compliance do clube.

A reunião que mudou tudo

Depoimentos revelados pelo Fantástico apontam que tudo começou em 27 de dezembro de 2023, cinco dias antes da posse de Augusto Melo. Em um hotel de São Paulo, o futuro presidente teria participado de uma reunião com o dono da VaideBet, o empresário artístico Toninho, seu funcionário Sandro e Marcelo Mariano.

Neste encontro, fechou-se o patrocínio de R$ 360 milhões por três anos. Mas a controvérsia surgiu quando se discutiu a comissão da intermediação. Segundo as testemunhas, Marcelo Mariano teria dito que “o contrato tem que ser feito por empresa que já é cadastrada no Corinthians”, deixando Toninho e Sandro de fora da negociação.

A empresa fantasma

No contrato final, apareceu como intermediária a “Rede Social Media Design”, empresa de Alex Cassundé, que trabalhou na campanha eleitoral de Augusto Melo. A comissão acordada foi de 7% de cada parcela do patrocínio, totalizando aproximadamente R$ 25,2 milhões em três anos.

O detalhe revelador é que o dono da VaideBet, em depoimento, negou ter tido qualquer contato com Cassundé, o que levanta sérias dúvidas sobre a real natureza da intermediação.

Em março de 2024, a Rede Social Media Design recebeu dois depósitos de R$ 700 mil cada um do Corinthians. A polícia afirma que grande parte desse dinheiro foi transferida para empresas de fachada registradas em nome de laranjas.

Ligações perigosas com o crime organizado

“Todas empresas ligadas direta ou indiretamente a pessoas do litoral, de Peruíbe. São empresas relacionadas à organização criminosa PCC”, afirmou o delegado Tiago Correia em declaração pública.

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público de São Paulo chegou a abrir uma investigação paralela, suspeitando que exista uma relação entre pessoas próximas da direção do Corinthians e o PCC. Os promotores avaliam que a facção criminosa poderia estar usando o clube para lavagem de dinheiro do tráfico de drogas, uma estratégia já detectada em outros setores como transporte público e serviços de saúde.

Conta misteriosa fora de São Paulo

Outro elemento controverso são os relatórios do Controle de Atividades Financeiras (COAF) que, segundo a imprensa, identificaram uma conta bancária em nome de Augusto Melo na cidade de Blumenau, Santa Catarina. Esta conta, aberta entre 2019 e 2020, registra depósitos frequentes em dinheiro vivo desde 2023.

Augusto Melo reagiu com veemência a esta informação, classificando-a como “fato inexistente e mentiroso” em nota oficial. O presidente negou possuir qualquer conta fora de São Paulo e criticou o vazamento de informações sem que sua defesa fosse ouvida.

Depoimento adiado e estratégia de defesa

Augusto Melo estava previsto para depor à Polícia Civil em 16 de abril, mas sua defesa considera adiar o depoimento. O advogado Ricardo Cury alega não ter recebido acesso integral ao inquérito:

“O advogado primeiro tem que acessar o inquérito de capa a capa para saber que elementos já foram coletados, para que o presidente Augusto possa esclarecer e falar sobre a investigação em si. E eu não tive ainda autorização para acessar a íntegra do inquérito”, explicou Cury.

A defesa argumenta que apenas após o feriado de abril conseguirá analisar toda a documentação. “É um inquérito em curso a praticamente um ano e uma semana ou quinze dias a mais, ou a menos não representa absolutamente nada”, completou o advogado.

O rompimento do contrato

Em junho de 2024, a VaideBet decidiu romper o contrato com o Corinthians, acionando uma cláusula anticorrupção presente no acordo. A casa de apostas alegou que tomou a decisão após constatar violações contratuais.

Para substituir a VaideBet, o Corinthians fechou parceria com a Esportes da Sorte, empresa que também enfrenta investigações relacionadas à lavagem de dinheiro em outros contextos.

Processo de impeachment

As supostas irregularidades no contrato com a VaideBet geraram um pedido de impeachment contra Augusto Melo, que deve ser votado pelo Conselho Deliberativo do clube. A primeira tentativa de votação foi suspensa por uma liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo, mas uma nova data deve ser marcada após a decisão judicial ser revertida.

O que dizem os envolvidos

Augusto Melo se defende afirmando que sua participação se limitou à negociação inicial do patrocínio. “A minha parte é negociar e daí para frente fica pelos órgãos competentes do clube que analisam tudo”, declarou em entrevista.

O advogado de Alex Cassundé contestou as acusações, dizendo que seu cliente “afirma categoricamente que teve contato com a VaideBet”, inclusive com o assessor do dono do site de apostas, e que a Rede Social Media Design foi escolhida “após critérios internos do clube”.

Já Marcelo Mariano defendeu a legitimidade do contrato em nota enviada à imprensa: “O contrato foi possível graças à atuação do intermediário”, referindo-se a Alex Cassundé. E acrescentou que o patrocínio “foi assinado por todas as partes sem qualquer questionamento, o que comprova a lisura de todo o procedimento”.

O futuro do caso

A conclusão do inquérito, prevista para a primeira semana de maio, será apenas o primeiro passo de um longo processo. Como lembra o advogado de Augusto Melo, “a partir da investigação policial não há condenação de ninguém. O inquérito simplesmente coleta alguns elementos de prova”.

Caso o indiciamento se confirme, caberá ao Ministério Público decidir se oferece denúncia contra os investigados, o que abriria um processo criminal formal. Enquanto isso, o Corinthians enfrenta não apenas a crise administrativa, mas também a pressão da torcida por transparência e a sombra de possíveis ligações com o crime organizado.

Para o clube que já atravessa dificuldades financeiras, o escândalo representa mais um capítulo turbulento em sua história recente. A Fiel Torcida, conhecida por sua lealdade, agora espera por respostas claras e pela apuração completa dos fatos que ameaçam a integridade da instituição.

© 2025 Futebol Latino. Todos os direitos reservados. É expressamente proibida a reprodução total ou parcial dos conteúdos deste site sem autorização prévia, expressa e por escrito.  Da mesma forma, é proibida a reprodução total ou parcial de conteúdos em resumos, resenhas ou revistas com fins comerciais.

Política de Privacidade