Em meio a contratos vigentes, jogadores como Manuel Capasso viram “fantasmas” ao serem excluídos dos planos sem rescindir vínculos, fenômeno que se reproduz em vários clubes e gera tensões jurídicas e humanas. No Vasco, o técnico interino Felipe foi categórico ao afirmar que “Capasso não faz parte do elenco” apesar do contrato até o fim de 2025, pois o zagueiro recusou quatro propostas e optou por permanecer no clube. Enquanto isso, Capasso treinava separado e respondia nas redes sociais com memórias de títulos, evocando desconforto institucional.
O caso Capasso e o “apagamento” sob contrato
Quando Felipe declarou que o argentino “tinha oportunidade de sair e não quis”, ele escancarou a relação de força entre atleta e clube: embora o contrato vigore até dezembro, Capasso não entra em relacionamentos de jogos nem nos planos de Carille ou do interino. Em seguida, o departamento promoveu sua exclusão definitiva do elenco principal e intensificou a pressão para que aceitasse uma transferência, o que transformou Capasso em “fantasma” dentro de São Januário.
Fantasmas do elenco: casos brasileiros
No Santos, Julio Furch enfrenta rotina semelhante: afastado do grupo principal, treina em horários distintos enquanto recebe R$ 1 milhão mensais e recusa saídas. Por sua vez, o goleiro Felipe Alves foi afastado pelo São Paulo e treina separado desde maio de 2023, acusado de indisciplina, mas ainda sob contrato.
Além disso, o volante Luan permanece em atividades físicas junto ao elenco são-paulino porém sem relação de jogo ou inscrição em competições, situação que perdura há meses. O meia Nikão, no Athletico-PR, corre risco similar após divergências com o técnico e já treina isolado. No Sergipe, 16 atletas seguem sem definição de futuro, com dois meses de salários atrasados e pressionados a deixarem o alojamento, mas ainda vinculados ao clube.
Fantasmas internacionais em elencos milionários
Em Londres, Raheem Sterling treina longe do Chelsea após o técnico Enzo Maresca excluí-lo das 21 prioridades, ignorando um contrato de longa duração e deixando-o “fora de vista” até uma possível venda. Da mesma forma, Jadon Sancho ficou “apartado” pelo Manchester United, treinando separado até ser emprestado de volta ao Borussia Dortmund.
No Arsenal, Pierre‑Emerick Aubameyang perdeu a braçadeira e foi mandado treinar sozinho antes de rescindir rumo ao Barcelona, em episódio que Mark Arteta descreveu como “crise de disciplina”. Já Rob Holding viu o Crystal Palace removê‑lo do elenco principal e silenciar referências ao clube em suas redes sociais, mesmo sob contrato até 2026. Por fim, o ataque a Kheira Hamraoui e a tensão no PSG a mantiveram afastada, treinando individualmente por semanas até reintegração exigida pelo sindicato francês.
Riscos legais e humanos
Apesar de prática recorrente, o “ghosting” fere o dever de ocupação efetiva previsto na Lei Pelé, que veda encaminhamento do atleta a treino separado sem justificativa, cabendo rescisão indireta e indenização por danos morais. Decisões judiciais, como a do TRT‑2 que condenou o São Paulo a indenizar Rodrigo Fabri, reiteram o caráter abusivo de tais afastamentos.
Caminhos para ressignificação
Para evitar a criação de “fantasmas” e reduzir litígios, clubes devem adotar políticas transparentes de transição, com comissões de mediação entre atleta e comissão técnica, programas de recolocação e prazos curtos para negociações. Além disso, fortalecer canais internos de diálogo e oferecer apoio psicológico minimizam impactos na saúde mental dos jogadores, convertendo potenciais crises em soluções colaborativas.
Ao iluminar o caso Capasso e casos afins, fica claro que o “ghosting” no futebol desafia não só estratégias esportivas, mas também âncoras legais e éticas, exigindo renovação de práticas para garantir respeito, eficiência e inovação na gestão de elencos.