O Declínio de uma Potência: Como o Boca Juniors Perdeu sua Força no Futebol Sul-Americano

Em ano de preparação para o Supermundial de Clubes da FIFA, o Boca Juniors protagoniza mais um capítulo de sua gradual perda de protagonismo no cenário sul-americano. A eliminação para o Alianza Lima na Copa Libertadores 2023 é apenas o sintoma mais recente de um processo de enfraquecimento que afeta não apenas o gigante argentino, mas todo o futebol do país.

A Queda de um Gigante Continental

A eliminação para o Alianza Lima nas oitavas de final da Libertadores não foi apenas uma zebra – foi a confirmação de um padrão preocupante. O Boca, que investiu pesado no elenco com a contratação de estrelas como Edinson Cavani, viu sua jornada no torneio terminar prematuramente nos pênaltis, após um empate agregado de 2-2 contra um time do futebol peruano, considerado atualmente um dos mais fracos do continente.

“Ninguém mais tem medo do Boca.”

Esta frase, cada vez mais repetida entre analistas e torcedores, resume bem o momento do clube. O respeito imposto pela camisa xeneize, que já foi capaz de intimidar adversários antes mesmo da bola rolar, parece coisa do passado.

Um Histórico de Decepções

Olhando para o histórico recente do Boca Juniors na Libertadores, encontramos um caminho pavimentado por frustrações:

  • 2023: Eliminado pelo Alianza Lima (Peru) nas oitavas de final
  • 2022: Vice-campeão, perdendo a final para o Flamengo
  • 2021: Eliminado pelo Atlético Mineiro nas oitavas de final
  • 2020: Eliminado pelo Racing nas oitavas de final
  • 2019: Eliminado pelo River Plate nas semifinais
  • 2018: Vice-campeão, perdendo a final para o River Plate
  • 2017: Eliminado pelo River Plate nas oitavas de final
  • 2016: Eliminado pelo Independiente del Valle nas semifinais

O seis vezes campeão da Libertadores não consegue erguer a taça desde 2007. Nas últimas doze participações, chegou a apenas duas finais (2018 e 2022), perdendo ambas. Mais preocupante ainda são as eliminações precoces para times teoricamente inferiores ou para o arquirrival River Plate, que vem levando a melhor nos confrontos decisivos.

O Fantasma do River Plate

A rivalidade com o River Plate, sempre intensa, tem pendido para o lado dos “Millonarios” nas competições continentais. De 2015 a 2019, o Boca foi eliminado quatro vezes pelo seu maior rival, incluindo a dolorosa final de 2018, disputada em Madrid após incidentes na Argentina.

Esta mudança na dinâmica do Superclássico argentino simboliza bem a perda de protagonismo do clube da Bombonera.

O Contexto do Futebol Argentino

A crise do Boca reflete um fenômeno maior: o declínio do futebol argentino como potência continental. Alguns fatores contribuem para esse cenário:

1. A Ascensão Financeira dos Clubes Brasileiros

Enquanto os clubes brasileiros experimentam uma revolução com a chegada das SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol) e maiores receitas de direitos de transmissão, os argentinos amargam dificuldades econômicas cronificadas pela instabilidade do país.

2. O Impacto do VAR

A implementação do VAR nas competições sul-americanas a partir de 2018 trouxe mais transparência às decisões arbitrais. Muitos analistas apontam que, historicamente, o futebol argentino se beneficiou de decisões controversas que agora são mitigadas pela tecnologia:

“Se tivesse VAR naquela época, metade dos títulos do Boca não teria sido conquistada.”

3. Exportação Precoce de Talentos

A Argentina continua produzindo excelentes jogadores, mas a situação econômica faz com que eles deixem o país ainda mais cedo, sem tempo de consolidação nos clubes locais. Os melhores talentos argentinos hoje raramente passam pelos gigantes locais antes de rumar à Europa.

O Ano do Supermundial

A eliminação do Boca não poderia ter vindo em pior momento. Em 2025, a FIFA realizará o novo formato do Mundial de Clubes, ampliado para 32 equipes, e o Boca tinha vaga garantida como um dos históricos campeões da Libertadores.

Agora, sem a possibilidade de disputar a Libertadores ou mesmo a Sul-Americana em 2024, o clube terá um ano inteiro sem competições continentais justamente quando deveria estar se preparando para enfrentar os gigantes europeus no Supermundial.

Este cenário coloca mais pressão sobre a diretoria comandada por Juan Román Riquelme, ídolo que agora precisa encontrar soluções administrativas para os problemas do clube.

A Mudança na Percepção Continental

O status do Boca Juniors sofreu uma transformação dramática. O clube que já foi temido por todos no continente agora vê seu mito ser gradualmente desconstruído:

“O Boca só ressurgiu em 2000, e muito desse ressurgimento se deve a confrontos polêmicos com clubes brasileiros, especialmente o Palmeiras.”

A diminuição do poder de intimidação da Bombonera é outro sintoma dessa perda de força. O lendário estádio, que já foi considerado uma “máquina de pressão”, parece ter perdido parte de sua mística. O Alianza Lima, por exemplo, não se intimidou com a atmosfera hostil e conseguiu sua classificação histórica.

O Futuro: Reconstrução ou Continuidade do Declínio?

O Boca Juniors está em uma encruzilhada. A gestão de Riquelme, que apostou em contratações de impacto como Cavani, não tem produzido os resultados esperados. A eliminação para o Alianza Lima expôs fragilidades estruturais que vão além do elenco.

Alguns caminhos possíveis para o clube incluem:

  1. Reestruturação financeira: Criar modelos sustentáveis de gestão para competir com os clubes brasileiros
  2. Fortalecimento das categorias de base: Focar na formação e retenção de talentos locais
  3. Modernização tática: Atualizar a filosofia de jogo, muitas vezes criticada por ser antiquada
  4. Recuperação da mística: Trabalhar para que a Bombonera volte a ser um fator determinante nos jogos decisivos

O Fim de uma Era?

A eliminação do Boca para o Alianza Lima pode marcar simbolicamente o fim de uma era no futebol sul-americano. O clube que já foi sinônimo de poder e títulos continentais agora luta para manter sua relevância diante do avanço técnico e financeiro dos clubes brasileiros.

Para os argentinos, é hora de reflexão. Para os brasileiros, a confirmação de uma mudança de paradigma no continente. Para o futebol sul-americano como um todo, um sinal de que mesmo as maiores tradições podem ser abaladas quando não há adaptação aos novos tempos.

Como Fernando Gago e Juan Román Riquelme, respectivamente técnico e dirigente do Boca, observaram desolados a eliminação na Bombonera, talvez estivessem presenciando não apenas o fim de uma participação na Libertadores, mas o ocaso de uma potência que já dominou o continente.

O que você acha? A eliminação do Boca é apenas um tropeço ou simboliza o fim de uma era? Os clubes argentinos podem recuperar seu protagonismo continental? Compartilhe sua opinião nos comentários e não deixe de acompanhar nosso blog para mais análises sobre o futebol sul-americano!

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