Erros da CBF em técnicos: Análise dos maiores fracassos na escolha de treinadores

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem protagonizado uma série de escolhas questionáveis quando o assunto é a contratação de treinadores para a seleção pentacampeã mundial. De ciclos encerrados de forma traumática a negociações que sequer se concretizaram, a entidade acumula fracassos que levantam uma pergunta inevitável: estamos diante de um problema estrutural de planejamento ou é apenas uma sequência de infortúnios?

Felipão 2014: O 7 a 1 que Nunca Será Esquecido

Luiz Felipe Scolari retornou à seleção brasileira em 2012 com status de salvador da pátria. Campeão mundial em 2002, Felipão tinha a missão de levar o Brasil ao título em casa. O início foi promissor:

  • Título da Copa das Confederações em 2013, com vitória sobre a Espanha campeã mundial
  • Discurso carregado de emoção que conectou torcedores à seleção
  • Apoio total da CBF e autonomia nas decisões

O Que Deu Errado

O que parecia uma escolha segura terminou na maior humilhação da história do futebol brasileiro. A derrota por 7 a 1 para a Alemanha expôs:

  • Preparo psicológico frágil dos atletas
  • Dependência excessiva de Neymar
  • Ausência de um plano B tático
  • Comissão técnica desatualizada em relação às tendências do futebol moderno

A CBF falhou ao não perceber os sinais de alerta que já apareciam nas partidas anteriores da Copa, como o desempenho pouco convincente contra o Chile nas oitavas de final. A aposta em um técnico que representava o passado, em vez de buscar renovação, evidenciou uma mentalidade retrógrada da entidade.

Dunga 2016: Repetindo o Erro da Insistência

Surpreendentemente, após o vexame de 2014, a CBF decidiu apostar em outro retorno: Dunga, que já havia comandado a seleção entre 2006 e 2010 sem grande sucesso. Esta escolha indicava:

  • Falta de visão de longo prazo
  • Resistência à inovação
  • Conforto em recorrer a nomes conhecidos

O Que Deu Errado

O segundo ciclo de Dunga foi ainda mais frustrante que o primeiro:

  • Eliminação precoce na Copa América Centenário de 2016
  • Futebol pragmático e sem identidade
  • Relacionamento tenso com a imprensa e torcedores
  • Resultados aquém do esperado nas Eliminatórias

A CBF demorou para reconhecer o erro e só demitiu Dunga após resultados desastrosos, demonstrando incapacidade de avaliar com objetividade o desempenho do treinador. A contratação parecia mais uma tentativa de economizar em vez de um projeto esportivo consistente.

Tite pós-2022: O Ciclo que Durou Demais

Adenor Leonardo Bacchi, o Tite, assumiu em 2016 com a missão de recolocar o Brasil nos trilhos. Seu trabalho inicial foi excelente:

  • Classificação com folga para a Copa de 2018
  • Implementação de um sistema defensivo sólido
  • Recuperação da confiança do grupo

No entanto, após a eliminação para a Bélgica em 2018, a CBF cometeu um erro crucial: manteve o treinador para mais um ciclo, ignorando sinais de desgaste.

O Que Deu Errado

O segundo ciclo de Tite foi marcado por:

  • Acomodação tática e falta de evolução no estilo de jogo
  • Insistência em jogadores por confiança, não por momento técnico
  • Dificuldade em lidar com a pressão crescente
  • Eliminação precoce na Copa de 2022 para a Croácia

A CBF falhou ao não promover uma renovação técnica quando era necessário. Um ciclo de seis anos é raro no futebol moderno e, neste caso, resultou em estagnação. Tite deixou a seleção após a Copa do Qatar sem ter conseguido implementar as ideias inovadoras prometidas no início do segundo ciclo.

Carlo Ancelotti: A Novela que Nunca Terminou

A saga mais recente da CBF envolve o italiano Carlo Ancelotti. Por duas vezes, a entidade anunciou informalmente negociações avançadas com o treinador do Real Madrid, mas em ambas ocasiões o acordo não se concretizou.

O Que Deu Errado

As negociações com Ancelotti evidenciaram problemas graves na gestão da CBF:

  • Anúncio prematuro de acordos não finalizados
  • Falta de plano B consistente
  • Comunicação desastrosa com públicos internos e externos
  • Desrespeito a contratos vigentes (Ancelotti tinha vínculo com o Real Madrid)
  • Incapacidade de competir financeiramente com ofertas de outros mercados

O episódio Ancelotti é sintomático da falta de profissionalismo na condução das negociações. A CBF parecia mais preocupada com o impacto midiático da contratação do que com a viabilidade real do acordo.

Padrões de Erro: Planejamento Falho ou Azar?

Analisando os casos apresentados, é possível identificar padrões recorrentes que indicam problemas estruturais na CBF:

1. Ausência de Projeto Esportivo de Longo Prazo

A entidade opera de forma reativa, buscando soluções imediatas sem uma visão clara sobre o futuro do futebol brasileiro. As contratações parecem atender a pressões momentâneas em vez de seguir uma filosofia consistente.

2. Modelo de Seleção de Treinadores Obsoleto

Enquanto federações como a alemã (DFB) desenvolvem treinadores dentro de uma filosofia nacional, a CBF oscila entre apostas conservadoras (Felipão, Dunga) e sonhos impossíveis (Ancelotti), sem critérios técnicos claros.

3. Falta de Estrutura Profissional

A ausência de um diretor esportivo com autonomia e conhecimento técnico deixa as decisões vulneráveis a influências políticas e interesses diversos, comprometendo a qualidade das escolhas.

4. Comunicação Desastrosa

A CBF sistematicamente cria expectativas que não consegue cumprir, gerando frustração entre torcedores e aumentando a pressão sobre os profissionais contratados.

Reflexão para o Futuro: Como Mudar este Cenário?

Para reverter o quadro de fracassos nas escolhas de treinadores, a CBF precisaria:

  1. Estabelecer um plano estratégico de longo prazo: Definir uma identidade para o futebol brasileiro e buscar treinadores alinhados a esta visão.
  2. Profissionalizar o processo de contratação: Criar comitês técnicos qualificados para avaliar candidatos com base em critérios objetivos, não apenas em popularidade ou passado.
  3. Investir na formação de treinadores brasileiros: Desenvolver um programa sério de capacitação de técnicos nacionais, reduzindo a dependência de nomes estrangeiros.
  4. Transparência e realismo: Comunicar de forma clara e honesta os objetivos e limitações nas negociações, evitando criar expectativas impossíveis.

Então…

Os fracassos da CBF na contratação de técnicos não podem ser atribuídos simplesmente ao azar. Existe um padrão consistente de decisões equivocadas que reflete problemas estruturais profundos na entidade. A questão não é apenas quem será o próximo treinador da seleção brasileira, mas como a CBF planeja construir um futuro sustentável para o futebol nacional.

O pentacampeão mundial merece gestores à altura de sua história. Enquanto a CBF não reconhecer a necessidade de uma reformulação em seus métodos de trabalho, continuaremos assistindo a novelas de contratações frustradas e projetos esportivos incompletos. O Brasil não precisa apenas de um novo técnico – precisa de uma nova mentalidade em sua principal entidade esportiva.

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